OS MOINHOS, A BROA E O FORNO COMUNITÁRIO

 

Os moinhos tiveram grande importância no dia-a-dia deste povo, desde tempos imemoriais. Eram pequenas fábricas artesanais de farinha que trabalhavam noite e dia a moer os cereais para fabrico do pão, centeio e milho. Só na Ribeira do Piódão chegaram a haver doze moinhos a funcionar ao mesmo tempo.

Hoje são apenas meras relíquias patrimoniais dum passado recente deste povo. Podemos encontrá-los abandonados ao longo das ribeiras. Os mais antigos, eram pequenas construções arredondadas sem janela, apenas com a porta de entrada e uma "trepeira", que é um pequeno buraco arredondado feito numa laje do telhado.

Lá dentro um engenho composto de duas mós em pedra de granito, rodeadas de três lajes altas a que chamavam o "cambado". Sobre a mó de cima estava a "moega", uma espécie de caixa afunilada em madeira, onde se deitava o cereal para moer. Este saía pelo fundo da "moega", através da "quelha", uma pequena calha em madeira suspensa por três cordéis que regulavam a saída do cereal, rápida ou lenta. Sobre esta, assentava um dos três braços do "chamadouro", uma espécie de cruz em madeira que ao mesmo tempo assentava sobre a mó superior do moinho, fazendo tremer a calha e cair o cereal lentamente para o olho da mó, que depois de transformado em farinha caía para o "tremunhado".

Na mó superior encaixava a "segurelha", peça de ferro em forma de cruz que por sua vez ligava à "vela", um tronco de madeira aprumado, onde encaixava o "rodízio" uma espécie de roda formada por vinte e quatro penas de madeira nas quais batia a água fazendo mover o moinho.

Este conjunto, situava-se no "cabouco", parte inferior do moinho, assente sobre a "grama", um tronco de medronheiro bifurcado ao qual ligava o pau da cruz vindo do interior do moinho que regulava as mós para moerem mais fino ou mais grosso, conforme o moleiro subisse ou descesse a mesma.

Depois de moída, a farinha era levada para casa em sarrões a fim de se cozer o pão que geralmente era sempre broa, dado que o centeio era só confeccionado em dias de festa. No entanto a sua farinha habitualmente era misturada com a de milho para tornar a broa mais macia e saborosa.

De seguida a farinha era peneirada para a gamela e amassada com água   morna,   sal   e fermento previamente preparado. Considerado bem amassado era polvilhado com farinha e com a mão faziam uma cruz em cima da massa, pedindo a Deus a bênção do pão, para que fintasse bem, dizendo ao mesmo tempo as seguintes palavras: "Deus te acrescente como a água na fonte e o Sol no nascente, em nome do Pai do Filho do Espírito Santo, Pai- Nosso e Avé-Maria". Cobria-se a gamela com os panais e cerca de uma hora mais tarde estava finto o pão.

Entretanto, os interessados em cozer o pão, homem ou mulher, deitavam o lume ao forno e quando as pedras do interior da fornalha estivessem esbranquiçadas era sinal de que o forno estava quente e se a massa já estivesse finta, o forno era varrido de imediato com o bassoiro[1]. Feita a varredura, as mulheres tendiam as broas e o homem com uma pá de:

ferro redonda colocavam-as no forno, arrumando-as bem arrumadinhas para caberem todas. Quando cozia mais que uma pessoa eram colocados sinais nas broas para que depois de cozidas fossem identificadas e não haver confusões. Cerca de uma hora mais tarde o pão estava cozido.

Hoje o forno comunitário e o ritual de cozer o pão, tal como os moinhos, fazem parte de um passado longínquo e ao mesmo tempo ainda recente, dado que ainda há poucos anos deixaram de funcionar por falta de cereais, visto que a cultura do milho foi abandonada em detrimento do pão de trigo que ali chega todos os dias.

 


 

[1] Bassoiro - Espécie de vassourão feito de mato verde com que varriam o forno.

 


 

 

excerto do livro:

PIÓDÃO

Aldeia Histórica, Presépio da Beira Serra

 "Historia, Lendas e Tradições"

de

José Fontinha Pereira

(Edição do Autor)

 

 

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